Foto: Arquivo Pessoal |
Por: Fr. Alex Assunção
No artigo anterior iniciamos uma reflexão sobre a “Liturgia em tempo de pandemia”. O mesmo foi concluído com uma expressão de São João Crisóstomo, que dizia: “não se põe incenso em carvão apagado”. Isto foi dito em um contexto em que a liturgia tinha perdido a sua essência. A pomposidade característica das festas palacianas, tinham sido inseridas na liturgia católica, destoando assim do jeito jesuanico de rezar e celebrar. João Crisóstomo, que era um bispo respeitado e conhecido pelo seu estilo de vida ascética, ao ser nomeado arcebispo de Constantinopla, a Capital do Império, iniciou uma série de reformas na vida da Igreja, incluindo a reforma litúrgica. Essa reforma da Liturgia primava em levar Deus aos homens pela Divina Liturgia. E para que isso acontecesse era necessário resgatar a dimensão mistagógico da liturgia.
Desde os tempos de São João Crisóstomo, muitos séculos se passaram e a nossa liturgia parece que, novamente, andou perdendo sua essência. No século passado tivemos uma grande reforma litúrgica. Foi a partir dessa reforma que a missa passou a ser celebrada na língua vernácula. Isto foi fabuloso! No entanto, com a empolgação dessa mudança, veio também os exageros. Com a justificativa de atrair fiéis para a Igreja foi se agregando na nossa liturgia, aquilo que há de pior no pentecostalimo. Ministérios que antes não existiam, começaram a ser inventados: comentarista, animadores, ministério de música etc. As missas começaram a ser explicadas pelos longos e enfadonhos comentários, os animadores passaram a conduzir a assembleia como animadores de palcos, as músicas começaram a ser selecionadas sem os critérios da Sagrada Liturgia. Com isso a dimensão memorial e mistagógica da missa foi sendo deixada de lado.
É tempo de resgatarmos à essência da Liturgia, tendo como base a inspiradora a Sacrosanctum Concilium. O Papa Francisco não tem medido esforços para recuperarmos esse caminho. Ele dedicou várias catequeses sobre essa temática. Na audiência Pública, do dia 22.11.2017, nos brindou com a seguinte reflexão: “A participação na Eucaristia faz-nos entrar no mistério pascal de Cristo, concedendo-nos a oportunidade de passar com Ele da morte para a vida, ou seja, no calvário. A Missa significa repercorrer o calvário, este percurso não é um espetáculo”.
Nesses dias nossa liturgia nos relembrou o texto de Mt 6,7-15, onde Jesus nos ensina: “Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos”. As muitas palavras empobrecem a nobreza e tira a dignidade de nossas liturgias. O falatório em nossas celebrações nos impede de viver plenamente o Mistério. O mesmo vale para as músicas que cantamos na missa. “A música litúrgica deve ter sempre um caráter orante. Por isso, os músicos devem cantar e tocar na liturgia com espírito de oração. Orando! Sua música deve ser oração em forma de sons e acordes. Cantos, sons e acordes, tudo oração” (José Ariovaldo, 2016).
Após essa longa quarentena, não podemos voltar para nossas comunidades do mesmo jeito que a deixamos. Esse tempo tem sido uma oportunidade de refletirmos o verdadeiro sentido de celebrar. A missa não foi criada por nós, ela é memorial de um fato real que se repete. Nós não temos o direito, de transformá-la em nosso bel-prazer, enchendo com tantas coisas desnecessária. E lembremos sempre o mistério nunca explica, se tentarmos explicá-lo, ele deixa de ser mistério.
Fonte: Esse artigo foi escrito para o Jornal mensal da Diaconia Missionária - Diocese de Roraima
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