segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Acolhida de Refugiados em Manaus

                                                       Por: Fr. Alex Assunção

Outro dia ao receber a visita de um jornalista em nossa Casa de Acolhida Santa Catarina, fui abordado com a seguinte pergunta: “Frei nos diga como surgiu a ideia da Casa de Acolhida?” Diante da pergunta, fui me dando conta que a casa não surgiu de ideia, de um planejado em escritório, ela surge de um apelo, de um “grito de Jesus Abandonado”, que bateu nossa porta. 

Tudo começou no advento de ano passado (dezembro de 2017), quando nos preparávamos para a festa de Natal. Apenas estava iniciando mais um dia de atendimento paroquial, quando bateu em nossa porta uma senhora grávida falando em Espanhol, procurando pelo “Cura” da paroquia. Tratava-se de dona Eugênia Rodriguez, acompanhada de sua filha Khamile Hhalil. As duas muito assustadas pediam ajuda, pois não sabiam o que fazer diante da ameaça de despejo do quarto onde estavam hospedadas. O desespero da filha em morar na rua junto com seu irmãozinho, Vicenzo Augusto e com a mãe que estava quase completando os dias para dar à luz, tomou conta daquele momento sagrado. Logo a cena nos remeteu a dois mil anos atrás, a cidade de Belém, na Judéia. Maria batendo na porta... Eu sabia que como cristão e humanista, não podia ser indiferente com essa família. Para mim estava claro que era “Ele” (o próprio Jesus) batendo à nossa porta! Não deu outra, em poucos dias a família Rodriguez estavam vivendo conosco em nossa paróquia. E assim iniciou a “Casa de Acolhida”, uma ideia de Deus através de seus filhos Eugênia, Khamile, Vicenzo e mais tarde o novo membro da família, Lorenzo. 

A nova configuração da casa, partiu de uma conversa com Dom Sergio Castriani, nosso arcebispo, sobre essa família e no final da conversa dom Sergio agradeceu o gesto e disse, poderia receber mais refugiados lá! Foi quando ele colocou a Caritas Arquidiocesana em contato conosco e mais tarde a Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas). A casa passou por uma adequação e desde o dia 04 de maio, está acolhendo 122 moradores, desses 57 são crianças de 0 a 10 anos, quatro gravidas e os demais são adultos, todos com alguma profissão e estão em busca de trabalho para alcançar a tão deseja integração social e autonomia. A casa conta com uma equipe técnica (coordenação interna) assumida pela Acnur através da Caritas Arquidiocesana.  Muitas coisas bonitas temos para comemorar e celebrar. Jesus, o Bom Pastor - o Providente, tem sido muito generoso para conosco. Ele tem se manifestado em muitas pessoas generosas de todas as classes e religiões (católicos, protestantes, espíritas, mormons…) e ateus. É bonito ver a fraternidade e a solidariedade se concretizando em torno a esse projeto que a nós foi confiado a missão de animá-lo e coordená-lo. 

Para garantir a presença de Jesus entre nós, pois Ele foi o idealizador desse projeto, temos encontrado com Ele no “Abandono”. Ele nos tem visitado nas dificuldades internas tanto no campo organizacional, como estrutural. Ele tem nos visitado nas resistências externas, aquele sentimento denominado por Zigmunt Bauman de “mixofobia” (o medo provocado pelo volume irrefreável do desconhecido, inconveniente, desconcertante e incontrolável). Nada que ao reconhecer, identificar que é Ele nos visitando, não seja acolhido com doçura e ternura. 

Somos muito gratos pela graça a nós concedida, sem mérito algum, de colocar em prática aquilo que nossa Igreja há anos vem nos interpelando: transformar nossas Paróquias em “Casa da Acolhida”. Que possamos ser fiéis nesse propósito. Rezem por nós e em troca nos colocamos em comunhão (Comum-união) com vocês. E se possível venha fazer parte dessa missão como voluntário: