quinta-feira, 11 de junho de 2020

Corpus Christi - A festa do Pão partilhado

Imagem gentilmente cedida por Ateliê 15

Por: Fr. Gregório Joeright, OFM

Hoje nós celebramos a festa do Corpo de Cristo e lembramos as palavras de São Paulo: “Porque há um só pão, nós todos somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão” (1Cor 10, 17). Celebrar a festa do Corpo de Cristo é celebrar o fato que somos um único corpo, uma comunidade de irmão e irmãs que se alimentam do mesmo pão e do mesmo cálice. 
Cada Eucaristia que celebramos, fazemos a memória de Jesus, da sua paixão, morte e ressurreição e proclamamos este mistério da fé: Anunciamos Senhor a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição, vinde Senhor Jesus. Fazer memória é não esquecer, é reconhecer a ação de Deus em nossas vidas. Foi isto que Moisés fez na primeira leitura de hoje: “Lembra-te de todo o caminho por onde o Senhor teu Deus te conduziu... Não esqueças do Senhor teu Deus que te fez sair do Egito, da casa de escravidão” (Dt 8, 2. 14b). O povo não podia esquecer a ação libertadora de Deus no seu passado, foi esta memória que alimentou o compromisso de continuar a caminhada. Assim, lembrar o passado foi essencial para viver no presente o ideal da fé. Também, na Eucaristia, lembrar o que Jesus realizou na sua morte e ressurreição é fundamental para viver o que Ele ensinou. 
Refletimos hoje sobre o sentido de ter presente entre nós, Jesus Eucarístico, isto é, Jesus presente no pão e no vinho consagrados – o corpo e sangue do Senhor. Comer a carne e beber o sangue significa alimentar-nos do Filho de Deus, sem divisões. Sabemos que tudo que comemos e bebemos se torna nossa carne, sangue, nossas energias. Comer a carne e beber o sangue de Jesus não é um ato de piedade, algo mágico, mas é a presença de Jesus em nossa vida, de modo que as nossas ações, palavras e sentimentos sejam de acordo com as palavras, ações e sentimentos de Jesus. Assimilar o alimento que Jesus nos dá é fazer com que nós assimilemos o próprio Jesus em nossas vidas: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6, 56). 
Por isso, recordar não é simplesmente guardar na memória, mas é nos alimentar de fatos passados para continuar a caminhada nos tempos atuais. É reconhecer que Jesus presente na Eucaristia é o alimento para vivermos como um só corpo hoje em nossas comunidades. Com certeza a nossa caminhada pelas ruas da cidade com Jesus no Santíssimo Sacramento com a presença e a manifestação de fé do nosso povo e das nossas comunidades é um grande sinal desta realidade de sermos o Corpo de Cristo. As saudades da nossa participação na Eucaristia neste tempo de pandemia têm que ser muito mais que simplesmente sentir falta, deve ser sentir a necessidade de vivermos de acordo com o Espírito Santo que Jesus nos prometeu. O Espírito que nos dá força para lembrar o que Jesus nos ensinou e para ser o nosso defensor na luta contra o mal e o pecado. É como o povo no deserto que se alimentou do maná e da memória de libertação para não esmorecer e nem desanimar rumo a Terra Prometida, que é a realização do projeto de liberdade prometida por Deus. 
Nestes três meses que já passamos sem a participação do povo na Eucaristia, já recebemos muitas mensagens de pessoas que manifestam o sentimento de uma falta muito grande da Eucaristia. Testemunhamos isto no dia da Pascoa que fizemos a caminhada com o Santíssimo Sacramento pelas ruas da cidade e quando fizemos a mesma coisa hoje. Com certeza, isto nos traz uma grande alegria pois reconhecemos a importância da Missa na vida do povo e das comunidades. Mas, tempo de ausência não é tempo só de sentir a falta, é tempo de nos aprofundar no verdadeiro sentido da Eucaristia. Celebramos, atualizamos a memória de Jesus, descobrimos que a missa não é um show ou espetáculo para atrair as multidões ou uma obrigação onde participamos simplesmente para aliviar a nossa consciência do medo de cometer algum pecado. A missa não pode ser simplesmente um programa social no final de semana ou trocada por qualquer outra atividade que nos parece mais interessante. 
Se Deus quiser, daqui há mais algumas semanas esperamos poder voltar para participar da Eucaristia, que este tempo de ausência não seja tempo perdido, mas tempo de valorização. Queremos reconhecer que participar da Eucaristia é fazer memória, a memória de Jesus que morreu na cruz e ressuscitou. Comungar é comungar na vida de Jesus é comungar na vida do irmão e da irmã. É sinal da nossa comunhão como igreja povo de Deus que celebra e caminha e é lembrar que somos um só corpo e que é preciso viver o amor, a partilha e a solidariedade entre nós. Que a Eucaristia seja para nós o que expressa para nós o canto de Zé Vicente: “A mesa tão grande e vazia, de amor e de paz! Onde há luxo de alguns, alegria não há – jamais! A mesa da Eucaristia nos quer ensinar, que a ordem de Deus, nosso Pai, é o pao partilhar. Pão em todas as mesas, da Páscoa a nova certeza: a festa haverá e o povo a cantar, aleluia. Irmãos companheiros na luta, vamos dar as mãos, na grande corrente de amor, na feliz comunhão – irmãos. Unindo a peleja e a certeza, vamos construir – aqui na terra o Projeto de Deus e todo o povo a sorrir!” (Pão em todas as mesas – Zé Vicente).

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